quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

ÁGUAS DE MARINA

                                           ÁGUAS DE MARINA
                                               Marina tinha um ano e oito meses
 Um dia levei-a para conhecer o mar. Chegando lá acomodei-a no meu colo e fui lhe mostrar a força das águas, àquela ocasião chamadas de "ondas". Repentinamente o tempo mudou e uma nuvem escura fez cair um pequeno chuvisco, obrigando-nos a procurar um abrigo.

Na calçada da barraca onde ficamos, surgiu uma pequena "poça d água". olhei para ela e fiquei a lembrar de casa e dos banhos e goles de água que marina tomava todos os dias, o que me levou a pensar em como a água estava presente em sua vida e como se manifestava de maneiras tão diversas ao seu pequenino olhar...
 
 

São tantas águas a confundir o olhar de Marina...

Água de cheiro na perfumaria,
Água  gelada na sorveteria,
Água docinha de coqueiro anão,
Água salgada temperando o mar,
Água salobra de lavar lagoa,
Singrar barcaça e embalar canoa
Tirar um cisco preso no olhar
Água furtada, água furtada...

Água fresquinha, manhã, tardezinha,
Gosto de terra, chuva e trovoada,
Pia, cacimba, caneco, quartinha,
Chaleira, pote, copo e caixa d’água,
Água parada, água parada...                            

Água fervente de fazer café,
Subindo ao céu em forma de fumaça
Água friinha de lavar o pé,
Descendo ao vale em forma de cascata

Água que molda o barro e o artesão,
Revela, ao claro, a bolha de sabão
Água espelhada na beira do rio
Pula represa e corre na mangueira,
Silenciosa escorre na vidraça
Conversadeira água “dejaneira”
Pintando o azul chovendo no jardim
Floresce a praça, o cravo e o alecrim

Sai da torneira e vai pra geladeira
Em pouco tempo “começa suar”
Mais um pouquinho bota pra tremer
Morre de frio, trinca e vira gelo
Chega na mesa toda em pedacinhos
Em pedacinhos volta a derreter

No coador vira remédio e chá,
Lambedor pra qualquer dor passar
Peneirada vira munguzá,
Sopa de tudo, canja e marmelada
Suco de fruta, doce e umbuzada,
Calda de manga, pinha e goiabada
Águas passadas, águas passadas...

Movem moinhos, rios e navios,
Desenham lagos e o horizonte
Chovem nas mãos e lavam seu rostinho,
Manhã chegando da noite sonhada
Alma lavada, alma lavada...



                                                                                             (fotos de Patrícia Mãe)


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