segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

                

                                   
               Marinasceu e trouxe em si, o último céu crepuscular do mês de outubro
                    Marinasceu e trouxe em si uma constelação de sorrisos
                    Amanheceu, marinasceu e acendeu, em mim, uma manhã colorida
                    Embalada num cordão fez um ninho em minha vida

     Marina nasceu com muito cabelo. Aos três ou quatro meses foram rareando, rareando e ela ficou quase careca. Um fiozinho aqui, um tufinho ali, outro acolá... resistentes à queda, foram novamente dando o ar da graça.
     Um dia quando eu saía para trabalhar, olhei-a no berço, passei a mão em sua cabeça e falei: o seu cabelo parece um ninho de corujinha. Ela riu. Mas retifiquei e disse: não!... De corujinha, não!... De colibri. Sim!... Um ninho de colibri! Disse isso, brinquei mais um pouco e saí.
     Eu estava realizando uma mostra de desenhos e pinturas numa escola do interior e para lá me dirigi. Chegando lá arrumei minha banca e, meio que por acaso, peguei uma quantidade de pequenos e alvos papéis que eu havia cortado em casa há muito tempo sem nenhum motivo definido. Apenas estavam ali como um pacote encontrado sem querer
     Peguei um pedaço e comecei a rabiscar. O lápis e os traços corriam livres, assim como o tempo. Chegou uma hora em que senti vontade de parar e tentei entender o que estava ali desenhado. Rodei o desenho para um lado, para o outro, tentando obter, em meio àquela abstração, uma referência figurativa, sem nada encontrar. Quando ele ficou de “cabeça pra baixo” eu percebi ter feito uma flor e, aninhado e pairando acima dela, o perfil de um colibri.
     No mesmo instante lembrei-me da rápida “conversa” com minha filha ao sair de casa. Lembrei dos seus poucos cabelos, do seu farto sorriso e fiquei ali com o olhar perdido e maravilhado contemplando aquela “coincidência”. Tentava entender por que e como isso se dá, quando, em meio ao silêncio próprio dessas ocasiões, uma voz que me conduz soprou no meu ouvido e bem baixinho me falou: Marina e a flora de lá... Eu, também em silêncio, perguntei: de lá de onde? A voz me disse: de onde ela veio... Trouxe de presente para você: folhas, flores e sementes. E, como se estivesse sorrindo, concluiu: continue desenhando...
     Eu continuei, a voz silenciou. Peguei outro pedaço de papel e logo depois mais outro e mais outro, dando sequência a uma série de quarenta desenhos “trazidos” por Marina, tornando-os um presente para todos nós.   

                                                                                                       Paulo Caldas
                                                                                                      Agosto - 2009



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