quinta-feira, 3 de março de 2011


CACHORRO LEÃO   

   
    Hoje, manhã, céu azul e um sol recém nascido prenunciando tempo bom, olhei algumas nuvens e me deixei levar pelo vôo de um pombo, leve e madrugador.
    Um arremedo de choro transportou-me de volta ao quarto: Marina minha filha de quatro meses de idade, acabara de acordar e, como em todos os outros dias, me chamava mais uma vez com seus ininteligíveis, mas, para mim, completamente compreensíveis balbucios.
     Passei por ela e fui lhe preparar uma mamadeira, pensando em depois levá-la para um passeio na praia, afinal o dia convidava. E assim nós fizemos. Já arrumada, mamou, arrotou, sorriu e saímos. Seus olhos vivos não perdiam um só detalhe de tudo que se passava à nossa volta: nossas plantas nas caqueiras, o descer as escadas, as cores das paredes, as roupas no varal, o abrir de cadeados e portas e até os reflexos dos nossos rostos nas vidraças do carro.

     Já na rua, as pessoas. Umas passam e nem olham, sobretudo os homens. Crianças sempre olham com curiosidade para o bebê passando ao lado. As mulheres, quase todas,  olham e dão um ar de riso e até arriscam perguntar alguma coisa como o nome, o tempo de nascimento e se é menino ou menina aquela pessoinha.
     Chegamos à praia. O céu continuava azul e o sol já se espalhava pra arder. O mar estava calmo, com seu barulho, quase um acalanto. Eu podia ouví-lo de longe. Alíás levo minha filha para a praia para tomar o recomendado banho de sol, mas o meu intuito mesmo é levá-la para ouvir o som do mar e é impressionante o efeito causado nela pelo marulhar: ela dorme como nunca consegue dormir em casa. Ela ri pro mar e adormece. Mas, não hoje. Notei que estava, desde que saímos de casa, tensa e inquieta e eu sem saber porquê. Tive a resposta quando olhei para o lado. Vi, com uns vinte, trinta metros de nós, um sujeito  de estatura alta, musculoso e malhado, vestindo uma camiseta e uma bermuda coladas, trazendo em uma das mãos uma coleira, uma guia de cães e uma banda de casca de coco verde que arremessava com força  para seu cão ir buscar. O rapaz “brincava” com seu PITTBULL, completamente indiferente às pessoas que, como eu, ousaram dividir o espaço que ele julga ser só dele e do seu cão.
     Imediatamente retornei para a calçada e quase encerrei o meu passeio, imaginando o que poderia acontecer com uma pessoa com uma criança de quatro meses no colo, caso o animal – o de quatro patas – cismasse de vir pra cima dela. O que se faz numa situação dessas? Ser mais um “acidente” que aparece nos jornais todos os dias? Todos os dias aparecem nos noticiários, vários ataques dessas bestas – e não me refiro só aos cachorros, mas principalmente aos seus donos – estraçalhando crianças, idosos ou qualquer outra pessoa que passe em sua frente. E essas bestas vêem televisão e não aprendem nada e nunca.
     Marina tem quatro meses. Tenho uma outra filha, Savana, e hoje ela tem vinte e três anos. Quando ela tinha a mesma idade que a irmã tem agora, levei-a, como fazia todos os dias, para ouvir o mesmo som do mar.  Desta vez me deparei com o cão da moda na época, o chamado dobermam. Seu dono o soltara também para brincar como se a praia fosse o seu quintal. Ele veio disparado em nossa direção, soltando baba para todos os lados deixando-me desesperado sem saber o que fazer. A minha sorte foi ter lembrado uma oração que a minha avó me ensinou quando eu era menino, que me salvou e que agora passo pra vocês. Ela dizia assim: “cachorro leão, Jesus Cristo morreu na cruz por mim, por ti não”. A oração, como minha avó me ensinara, era pra ser repetida por três vezes e ela garantia que cachorro nenhum me atacaria. Deu certo! O cão não nos mordeu. Deu uma volta em torno de nós e voltou para o seu dono nos olhando com uma expressão de completo desprezo. Reclamei com ele, o animal de dois pés, que ainda se achou no direito de ficar com raiva de mim porque pedi que prendesse a sua arma.
     Caso alguém saiba de alguma oração que tenha algum poder sobre esses criadores  não de cães, mas de casos de abuso de espaços públicos, divulgue. Assim evitaremos tanta dor a pessoas que passeiam para ouvir o som do mar, estão em seus terraços ou simplesmente em suas calçadas apreciando um simples volteio de um pombo madrugador. 


                                                               Paulo Caldas



Um comentário:

  1. Adorei a oração e anotei-a. Hoje já se exige o uso de focinheira nos animais, mas como nos livrar dos animais de duas pernas que agora farejam nossa bolsa em cada rua? Talvez a oração sirva...

    ResponderExcluir